“Eu não entendo vocês mulheres!” Foi a frase de um amigo ao
desligar o telefone com o olhar surpreso e indignado. Bom, isso não é novidade.
A maioria dos homens não entende. Não sei até que ponto isso é bom, só sei que
gera material para o blog.
Uma amiga e eu até tentamos impedir que ele tornasse o
telefonema em desastre, mas não deu. O motivo pode ser até bobo e o que
dissemos a ele pode parecer uma contradição em relação a tudo o que nós
mulheres dizemos, mas qual a novidade? Nós somos contraditórias. Algumas vezes
eu me compadeço do sofrimento de vocês ao tentarem nos entender. Somos um
mistério tão grande que nem nós nos entendemos às vezes. Mas uma coisa é certa,
mulher nenhuma gosta de saber que a sua companhia foi trocada pela de um
porquinho e eu não estou me referindo àquele amigo que você possa ter que seja
tipo o Cascão da Turma da Mônica. Analisemos a situação:
A esposa desse amigo viajaria para o outro lado do país após o
almoço e ele havia dito que almoçaria com ela. Seria a primeira vez em décadas
de casamento que ficariam tão longe um do outro. Perto da hora do almoço ele
verificou qual seria o cardápio da empresa, por puro costume. Eis que entra na
história, ele, o porquinho. O almoço era uma bela de uma feijoada. Nosso amigo
é louco por feijoada. Quando ele pegou o telefone para cancelar o almoço com a
mulher por causa do porquinho, minha amiga e eu entramos em pânico. Sacudimos
os braços, fizemos gestos negativos, por pouco não tomamos o telefone de suas
mãos para montar uma estratégia melhor, mas ele foi mais rápido. Ligou para a
esposa e disse todo meigo, que não almoçaria com ela porque tinha feijoada na
empresa. Pronto. Danou-se. Minha amiga e eu batemos com a mão na testa ao mesmo
tempo. O que mais ele poderia ouvir senão: “Você está me trocando por um
porco?”. Não imaginem que a frase foi dita de forma ríspida, foi dita daquela
forma sentida, dolorida, aquela que a gente costuma usar na chantagem emocional
mesmo, de cortar o coração. Até o porco teria chorado se o coitado estivesse
vivo. Claro, que eu não ouvi a ligação, mas pela cara de culpa que ele fez e a
frase: “Amor, não serve comer só a sobremesa com você?”. Eu quase pude ver os
olhos lacrimejantes dela. Dependendo do período do mês, essa frase só deve ter
piorado as coisas.
Quando ele desligou o telefone e nos viu com aquela cara de
reprovação, fez a pergunta que não quer calar. “Gente, vocês não dizem que
devemos sempre dizer a verdade?”. É ele está certo nós falamos mesmo isso, não
necessariamente quer dizer que a verdade não colocará a cabeça dele a prêmio.
Claro que o caso do porco não era extremo, mas o drama poderia ter sido
evitado.
Argumento dele: “Mas eu gosto tanto de feijoada! Ela sabe
disso.”
Ok. Ela sabe disso, sabe que ele gosta muito de feijoada, mas
ela não precisava saber que o cardápio do bendito dia era feijoada. Ela conhece
seus gostos, deve ter passado o dia todo fazendo algo bem gostoso para a
despedida e agora acha que ele gosta mais de porquinho do que dela. Vou
melhorar a frase. Gosta mais de porquinho do que da companhia dela.
Agora, o que ele ignorou foi o agravante para o beicinho: Ela
estava de viagem marcada e ficaria muitos dias fora. Qual era a dificuldade
para o nosso amigo em comer a feijoada e ir pra casa ficar com ela um pouco como
o combinado? Bastava dizer que estava meio sem fome, comer uma colherzinha ou
duas de arroz, e pronto, só mesmo para ela não ter tido o trabalho de fazer um
almoço com carinho e você nem tocá-lo. Depois, era só comer a sobremesa e
pronto. Nada de tempestade. E olha o bônus da consciência limpa: Não teria
mentido, simplesmente omitido que já havia forrado o estômago antes.
Olha a paranoia surgindo: “Eu tenho um apetite grande. Ela
desconfiaria se eu comesse pouco.”
O problema não estava em comer o porquinho ou não. O problema
estava em dizer a ela que não iria comer com ela por causa do porquinho. Só uma
louca faria rebuliço por ele ter provado o porquinho.
Olha o sujeito querendo abusar da sorte: “Mas e se eu tivesse
dado uma carona pra uma loira?” Vamos combinar que mulher desconhecida no carro
já é outra história.
Quem não deve não teme, mas se você acha que isso pode cair no
ouvido dela de forma distorcida é melhor comentar. Mulher, quando quer, vê fio
de cabelo em ovo (de galinha, de pata, de codorna...). Imagine se ela começar a
ter visões suas em um carro com uma loira arrasa quarteirão. É, porque a mulher
da carona pode ser um tribufu, mas na mente da sua mulher é a Gisele Bündchen.
Vou revelar agora um segredo e é bem capaz que eu seja
linchada pelas minhas amigas por isso.
Toda mulher começa a desconfiar do homem quando ele dá
explicações demais e, normalmente, quando vocês dão explicações demais sem que
detalhes sejam solicitados, estão aprontando alguma coisa, porque vocês tentam
criar uma história tão convincente que acabam tocando no assunto o tempo todo,
tentando não deixar nem uma brecha.
Bom, no fim das contas o único que não teve saída foi o
porquinho que, diga-se de passagem, estava uma delícia. Ele foi perdoado quando
ela retornou de viagem, porque a vida é assim: um porquinho não era tempestade
suficiente para abalar um casamento de décadas, mas acho bom que ele pense bem a respeito de caronas a loiras.
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