sábado, 29 de dezembro de 2012

DÚVIDA CRUEL


“Eu não entendo vocês mulheres!” Foi a frase de um amigo ao desligar o telefone com o olhar surpreso e indignado. Bom, isso não é novidade. A maioria dos homens não entende. Não sei até que ponto isso é bom, só sei que gera material para o blog.
Uma amiga e eu até tentamos impedir que ele tornasse o telefonema em desastre, mas não deu. O motivo pode ser até bobo e o que dissemos a ele pode parecer uma contradição em relação a tudo o que nós mulheres dizemos, mas qual a novidade? Nós somos contraditórias. Algumas vezes eu me compadeço do sofrimento de vocês ao tentarem nos entender. Somos um mistério tão grande que nem nós nos entendemos às vezes. Mas uma coisa é certa, mulher nenhuma gosta de saber que a sua companhia foi trocada pela de um porquinho e eu não estou me referindo àquele amigo que você possa ter que seja tipo o Cascão da Turma da Mônica. Analisemos a situação:
A esposa desse amigo viajaria para o outro lado do país após o almoço e ele havia dito que almoçaria com ela. Seria a primeira vez em décadas de casamento que ficariam tão longe um do outro. Perto da hora do almoço ele verificou qual seria o cardápio da empresa, por puro costume. Eis que entra na história, ele, o porquinho. O almoço era uma bela de uma feijoada. Nosso amigo é louco por feijoada. Quando ele pegou o telefone para cancelar o almoço com a mulher por causa do porquinho, minha amiga e eu entramos em pânico. Sacudimos os braços, fizemos gestos negativos, por pouco não tomamos o telefone de suas mãos para montar uma estratégia melhor, mas ele foi mais rápido. Ligou para a esposa e disse todo meigo, que não almoçaria com ela porque tinha feijoada na empresa. Pronto. Danou-se. Minha amiga e eu batemos com a mão na testa ao mesmo tempo. O que mais ele poderia ouvir senão: “Você está me trocando por um porco?”. Não imaginem que a frase foi dita de forma ríspida, foi dita daquela forma sentida, dolorida, aquela que a gente costuma usar na chantagem emocional mesmo, de cortar o coração. Até o porco teria chorado se o coitado estivesse vivo. Claro, que eu não ouvi a ligação, mas pela cara de culpa que ele fez e a frase: “Amor, não serve comer só a sobremesa com você?”. Eu quase pude ver os olhos lacrimejantes dela. Dependendo do período do mês, essa frase só deve ter piorado as coisas.
Quando ele desligou o telefone e nos viu com aquela cara de reprovação, fez a pergunta que não quer calar. “Gente, vocês não dizem que devemos sempre dizer a verdade?”. É ele está certo nós falamos mesmo isso, não necessariamente quer dizer que a verdade não colocará a cabeça dele a prêmio. Claro que o caso do porco não era extremo, mas o drama poderia ter sido evitado.
Argumento dele: “Mas eu gosto tanto de feijoada! Ela sabe disso.”
Ok. Ela sabe disso, sabe que ele gosta muito de feijoada, mas ela não precisava saber que o cardápio do bendito dia era feijoada. Ela conhece seus gostos, deve ter passado o dia todo fazendo algo bem gostoso para a despedida e agora acha que ele gosta mais de porquinho do que dela. Vou melhorar a frase. Gosta mais de porquinho do que da companhia dela.
Agora, o que ele ignorou foi o agravante para o beicinho: Ela estava de viagem marcada e ficaria muitos dias fora. Qual era a dificuldade para o nosso amigo em comer a feijoada e ir pra casa ficar com ela um pouco como o combinado? Bastava dizer que estava meio sem fome, comer uma colherzinha ou duas de arroz, e pronto, só mesmo para ela não ter tido o trabalho de fazer um almoço com carinho e você nem tocá-lo. Depois, era só comer a sobremesa e pronto. Nada de tempestade. E olha o bônus da consciência limpa: Não teria mentido, simplesmente omitido que já havia forrado o estômago antes.
Olha a paranoia surgindo: “Eu tenho um apetite grande. Ela desconfiaria se eu comesse pouco.”
O problema não estava em comer o porquinho ou não. O problema estava em dizer a ela que não iria comer com ela por causa do porquinho. Só uma louca faria rebuliço por ele ter provado o porquinho.
Olha o sujeito querendo abusar da sorte: “Mas e se eu tivesse dado uma carona pra uma loira?” Vamos combinar que mulher desconhecida no carro já é outra história.
Quem não deve não teme, mas se você acha que isso pode cair no ouvido dela de forma distorcida é melhor comentar. Mulher, quando quer, vê fio de cabelo em ovo (de galinha, de pata, de codorna...). Imagine se ela começar a ter visões suas em um carro com uma loira arrasa quarteirão. É, porque a mulher da carona pode ser um tribufu, mas na mente da sua mulher é a Gisele Bündchen.
Vou revelar agora um segredo e é bem capaz que eu seja linchada pelas minhas amigas por isso.
Toda mulher começa a desconfiar do homem quando ele dá explicações demais e, normalmente, quando vocês dão explicações demais sem que detalhes sejam solicitados, estão aprontando alguma coisa, porque vocês tentam criar uma história tão convincente que acabam tocando no assunto o tempo todo, tentando não deixar nem uma brecha.
Bom, no fim das contas o único que não teve saída foi o porquinho que, diga-se de passagem, estava uma delícia. Ele foi perdoado quando ela retornou de viagem, porque a vida é assim: um porquinho não era tempestade suficiente para abalar um casamento de décadas, mas acho bom que ele pense bem a respeito de caronas a loiras.

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